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Finalmente fui ver algo que para mim e para 99,9876% das mulheres do mundo parecia impossível – o Brad Pitt feio. É minha gente, todo mundo fica velho e o meu Oscar de maquiagem vai para “O curioso caso de Benjamim Button”, taí a estatueta que não me deixa mentir.

Mas tirando a parte técnica da coisa, fica a mensagem. O mega-clichê “Aproveite a vida” foi muito bem destrinchado pelo roteirista do filme, Eric Roth, o mesmo de Forrest Gump. O cara fez de uma frase típica de aspirante à BBB uma verdadeira obra-prima, digna de reflexões.

Ao começar pela atitude da mãe adotiva de Benjamim, que se mostrou um exemplo de amor e provação ao assumir uma criatura considerada um “mostro” pelo próprio pai. Quantas vezes fechamos os olhos para as aberrações que insistem em nos perseguir no dia a dia?

Crianças que imploram não apenas por um trocado – embora a gente prefira entender assim – , mas para que possamos despertar da acomodação profunda dos nossos lares quentinhos e mexer o traseiro rumo a um trabalho voluntário. Mas aí vem o “mostro” da falta de tempo e…ah, deixa pra lá.

Pessoas que nos consomem em ambientes onde somos obrigados a distribuir sorrisos gratuitos – leia-se, o trabalho – e, mesmo assim, freqüentamos almoços onde se conversa nada x nada, entramos em amigos secretos onde as pessoas se odeiam, tomamos cafezinhos e mais cafezinhos juntos. Esse é o mostro da “não-aceitação” social. O bicho é grande, vejo diariamente muitos marmanjos com medo dele.

Também tem o mostro do desemprego, e esse tem até cara. É o que nos faz agarrar com unhas e dentes nossos empreguinhos, mesmo que eles sejam medíocres e não nos acrescentem nada. Este monstro não só nos persegue, mas nos diminui quando comparados à imensidão da vida. Ele nos torna mais mesquinhos, mais apegados, mais competitivos. E nos distancia cada vez mais de uma vida mais feliz e, acima de tudo, mais simples.

Mas voltando ao “Curioso caso”! A maior lição que tirei desse filme foi a de um velhinho que morava na mesma casa de Benjamim. Por repetidas vezes ao logo da história, ele olhava para Benjamim e dizia: “Eu já te falei que fui atingido por um raio sete vezes?”. No começo do filme, o personagem interpretado por Brad Pitt escutava a tal frase com um olhar inocente, até com a boca aberta, como as crianças normalmente fazem. Afinal, ele era uma criança, apesar do corpo atrofiado e velho.

Com o passar do tempo, eu percebi que o fator surpresa obviamente foi se esvaindo. Ele já não dava mais tanta atenção e apenas ouvia a frase por educação. Então ele cresceu (nesse caso, rejuvenesceu) e foi pro mundão viver. Anos mais tarde, ao retornar à casa, topar com o velho-matusalém e ouvir a frase pela milésima vez, a feição de Benjamim dizia: “Inacreditável. E não é que eu vivi tudo isso por aí afora e esse velho ainda tá nessa?”.

Foi nessa hora que pra mim caiu uma fichinha, e nem sei se a intenção do autor era essa. Com essa mensagem entendi que, a partir do momento que você se abre para uma mudança, deve estar preparado também para aquilo que NÃO mudou à sua volta. Sim, porque não é porque você decidiu virar hippie que vai passar a criticar todos os seus amigos engravatados com os quais você almoçava por obrigação.

Pra mim isso fez muito sentido, pois muitas vezes sinto que viajei no tempo (pro ano de 2052) e voltei pro mesmo lugar onde estava. Muitas vezes me pego com a mesma cara incrédula de Benjamim, como se acreditasse menos no ser humano. O que aconteceu é que, para ele, o mundo se abriu. Pro tiozinho dos raios, não. Mas quem está errado nessa história? Quem é melhor ou pior?

Enxergar o mundo com os olhos dos outros é uma missão quase impossível, mas se todos conseguissem fazer isso ao menos uma vez ao dia o mundo seria um pouquinho melhor. Não haveria pré-julgamentos, preconceitos, fofocas, intrigas. Acho que até a turma da Faixa de Gaza ia se entender.

“Aproveite a vida”, uma das mais escancaradas mensagens do longa, pra mim já é fato, já que sou uma pessoa intensa, sensível e irritantemente passional. Mas a mensagem menos transparente foi a que mais me marcou.

Compreender a realidade de cada um e tentar se adequar da melhor maneira possível, foi isso que esse filme mostrou pra mim. Afinal, nascer todo enrugado em meio a tantos bebezinhos aveludados não deve ser fácil nem pro Brad Pitt.

 

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“É, confesso que não foi bolinho não, viu…”

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